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Carta aos Livros

  " A vigorosa alma cheia de significados, que transcende o corpo material de um texto, transmite a mim os sentidos que preciso para estar viva. Tanto que, se me tirassem as palavras, nada mais sobraria se não o grosso pó ao deixar-se empoeirar as prateleiras da estante do saber. Abandonar-me ia na imensa escuridão da ignorância, desmanchando de tão velha, enferrujando de tão inerte e morrendo de tanto desgosto. Estaria vazia, murcha de qualquer animosidade e translúcida do ser. Não poderia mais se ver quaisquer rastros de cor em minha presença, caso a enxergassem, faria questão de torna-la permanentemente não sóbria. Tem a minha atenção aquilo que me compõe como Mariana, que me preenche como mulher e me aviva como humana.  Aos livros devo muito, pois estaria sendo terrível mentirosa se negasse, em algum momento, que a cada pedaço meu se encontra paráfrase e ponto final. Travessado por mim este caminho que tem sido escrito por tantos manejos, dedico a estes, meu eterno vislumbre.&

Equinócio

Doce, doce flor Flor da Primavera Quiseras eu ter o poder De te oferecer Tudo aquilo que almejo ser. Seu pólen desbravador Que chega em minhas narinas Semeia meu coração com alegrias. Linda, linda flor Feita de açúcar e amor Que com toda doçura... Traz consigo a bravura Mas que com leveza Faz voar toda essa tristeza... Para que nossa alma possa finalmente Se tornar consciente Da potencialidade existente Embutida em nossa mente E assim sorrir novamente Junto a suas pétalas esbranquiçadas Forma-se o rito de Ostara Célebre nascimento Da flor que torna Fértil o tempo.          💕 COLAB       Muad'Dib®,   Mariana O.         02/10/2024

Inóspita

Está morto o brilho Mortissímo, como quem nunca existiu Se um dia já se viu, não me lembro mais. Só resta em meu peito Fragmentos de sentimentos Que não correspondem a nada. Ele se foi E levou com ele a minha alma. Em troca trouxe o vazio A oferta boa de se sentir oca Inabalável por ser intocável  E assim o mesmo mundo  que com ele parecia inexplorado Passa a ser o que me enfraquece E todas as coisas  que com ele eu amava Se tornam os motivos Da minha ânsia  Por um fim.                Mariana O.                 Cabo frio, 30/09/2024

Gim

  Eu posso beber uma dose de gin Sentir o doce gosto do meu fim Negarei o vinho tão seco que me rasga a garganta As melhores vodkas e os convites de carona Os drinks mais bonitos e açucarados Não quero o whisky velho e amargurado Me dê apenas a dose de gin Aromática e subestimada Assim como essa sacada Que me deixa alta o suficiente para cair Nada de novo para mim Gosto feminino  De batom e gin                 Mariana O.                 Cabo frio, 16/09/2024

Bolhas d'sabão

Beleza translúcida Escorregadia Estado físico da ludicidade No céu o reflexo Do seu espectro prismático Vento que te leva Lava a alma e te faz livre Fragilidade Estouro da existência finda Leveza de viver            Efeito                            do                                     deixar                                                      i                                                     r      Mariana O.     Cabo frio, 03/09/2024

A sombra eu

No escuro me escondo da sombra que me assombra E pra relaxar, quebrada, eu tento remontar As peças do quebra cabeça que não parecem encaixar Não entendo nada já que olhei a caixa e estava escrito lá Que o tema era: Perdida no vão da vida só esperando o trem passar E essa dor que insiste em continuar? Me parece que tomar aspirina não vai adiantar Ela tira de mim tudo que eu nem sabia que tinha a ofertar Meus amigos dizem que estou doida e é assim mesmo que eu queria estar Louca de não se importar, perder a hora, errar o ponto, ver o jornal e não me estressar Mas é impossível pra mim parar de pensar  Eu penso em mim, no mundo, nas pessoas e tudo que eu tenho pra falar Nas coisas que ninguém conversaria em um bar Mas preservo os momentos de performar Vivenciar os dramas de beber e beijar Esquecer de tudo e sair sem pagar O preço que é conseguir sustentar O peso de um viver diferente Que com certeza não nasceu pra agradar Mas faz parte chocar  Na minha mente não é mesmo fácil entrar Vivo s

A doença maldita

  Se me aparecesse por um acaso alguma espécie de anjo, e esse anjo por um acaso, estivesse disposto a me conceber a realização de um desejo, no mesmo instante eu saberia exatamente o que pedir.  Pediria a ele, ajoelhada e em súplicas, tão decidida e desesperada que o meu pedido o alcançaria como uma flecha certeira atinge seu alvo. Eu pediria a ele, que as pessoas tivessem vontade de viver. Que as mazelas da vida, sejam quais forem, não pudessem importunar a mente de alguém ao ponto da mesma desejar a morte estando viva.  E eu não falo aqui de dramas, momentos onde nossos pensamentos se tornam nebulosos e confusos. Estou falando das pessoas que acordam sem desejar acordar jamais. Das pessoas que parecem ter sempre a companhia da sombra da morte em suas vidas, e mesmo perante as alegrias, sentem que essas não passam de fingimentos ou sequer são capazes de senti-las.  Sem pestanejar, imploraria a ele pela aniquilação da Maldita .  Já vivi na pele e também tive a infelicidade de presenc

Disse o Padre Zé Ninguém

Os afetos vindos de alguém Seja de lá ou cá Goteja já  A esperança  Do saber amar Sem julgar Apenas alimentar As almas famintas Vazias de tudo Que a vida  As vezes tira O apoio, portantos Se torna algo além  É sobre estar Servir como amigo A uma pessoa Ser pessoa A outrem Não importa quem Disse o Padre Zé Ninguém Mariana Oliveira    Cabo frio, 25/07/2024