A doença maldita

 Se me aparecesse por um acaso alguma espécie de anjo, e esse anjo por um acaso, estivesse disposto a me conceber a realização de um desejo, no mesmo instante eu saberia exatamente o que pedir. 

Pediria a ele, ajoelhada e em súplicas, tão decidida e desesperada que o meu pedido o alcançaria como uma flecha certeira atinge seu alvo. Eu pediria a ele, que as pessoas tivessem vontade de viver. Que as mazelas da vida, sejam quais forem, não pudessem importunar a mente de alguém ao ponto da mesma desejar a morte estando viva. E eu não falo aqui de dramas, momentos onde nossos pensamentos se tornam nebulosos e confusos. Estou falando das pessoas que acordam sem desejar acordar jamais. Das pessoas que parecem ter sempre a companhia da sombra da morte em suas vidas, e mesmo perante as alegrias, sentem que essas não passam de fingimentos ou sequer são capazes de senti-las. 

Sem pestanejar, imploraria a ele pela aniquilação da Maldita

Já vivi na pele e também tive a infelicidade de presenciar as consequências que diferentes patologias podem ocasionar no ser humano. Porém, nada, nunca, se equipara ao que a Maldita é capaz de fazer com qualquer um. Seja você rico ou pobre, um estudioso ou um miserável, ninguém está a salvo Dela. Não tem como escapar se Ela por algum motivo, lhe escolher. E o motivo? Esse sequer existe.

Ela nos deixa cinza. E ser cinza dói e também machuca quem te enxerga nesse breu. A dor de perder a vontade de viver te tira tudo, porque tudo é viver. Quando você se levanta da cama ao amanhecer, se levanta porque quer viver. Quando toma o café, quando almoça, quando bebe água, está nutrindo para que continue vivo. Quando sai de casa, encontra amigos, trabalha, estuda, vai ao banheiro, volta pra casa, faz tudo porque está vivo. Tire isso de alguém e o veja morrer lentamente, como um apodrecimento da vida. 

Os sintomas incluem não raciocinar direito, se aprisionar em um tipo de redoma de vidro que ninguém consegue quebrar, e morrer sozinha com o próprio ar, como já dizia Plath, De repente, se torna pesado estar dentro do seu próprio corpo, pesado demais para aguentar.

Imagine ter um pesadelo terrível, o pior de todos, e acordar e descobrir que isso é ser você. É isso que a Maldita faz com inocentes, pessoas que nasceram, sofreram, amaram, como todos nós fazemos. E ela ainda os faz acreditar que não há qualquer salvação, que tudo está mesmo perdido, em ruínas, que é melhor se deixar ir, sendo que a culpa é unicamente Dela. Conviver com isso é, estar aprisionado a um aparente eterno sofrimento. 

A depressão tem mesmo a força de tirar todo o brilho das pessoas mais brilhantes.


Mariana O. 

Cabo frio, 04/08/2024


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